quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Jussara Alves - Terceiro Sinal - Espaço Vida é o entrevistado


Espaço Vida é o entrevistado


O INSTITUTO ESPAÇO VIDA nasceu em 2003 com a missão de oportunizar o atendimento escolar e terapêutico especializado e de qualidade e a inclusão social de pessoas com deficiências neuromotoras e carentes.

"Atualmente estamos trabalhamos com quatro diferentes grupos, incluindo deficientes múltiplos (físico, mental e sensorial), independente do grau de dependência apresentado para locomoção, alimentação e higiene, jovens deficientes mentais e crianças que estão incluídas no ensino regular, mas que apresentam dificuldades de acompanhamento e assimilação dos conteúdos pedagógicos.


O trabalho é realizado através da execução dos projetos: 'Contos de Fadas', 'Doce Som', 'Folclore Brasileiro' e 'Pedacinhos da Natureza', tendo como proposta contribuir para o desenvolvimento bio-psico-social do deficiente, visando possibilitar a expressão de suas potencialidades latentes, com o objetivo de inseri-los de maneira mais efetiva nas comunidades que já integram, além de desenvolver maior autonomia e independência.


O fio condutor dos projetos baseia-se em ações terapêuticas e pedagógicas que propiciam ao aluno deficiente a vivência de situações lúdicas de aprendizado.


A equipe é composta por educadores e técnicos em reabilitação (fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo e psicopedagogo), que somam seus conhecimentos e constroem o plano de ação para cada grupo."





--- Quais os benefícios que o Instituto Espaço Vida percebe com o trabalho de inclusão do deficiente por meio da arte? 
"Os benefícios que conseguimos perceber são de diferentes ordens. Alguns deles sentem-se motivados para superar dificuldades pessoais, com melhoras nos aspectos do equilíbrio, controle de movimentos e domínio espacial. Outros apresentam dificuldades motoras mais sérias e necessitam ser conduzidos nas suas cadeiras durante as danças. Outros, ainda, devido a limitações intelectuais, precisam do auxílio de acompanhantes para conseguirem deslocar-se no espaço do palco de maneira harmônica. Para todos eles, entretanto, o aspecto social de sentirem-se participantes de um grupo, de viverem a dança e a arte e a sensação de pertencimento e acolhimento são extremamente gratificantes. Aqueles que se expressam através de palavras conseguem nos dizer sobre isto e aqueles que não possuem linguagem oral conseguem nos mostrar o que sentem através dos olhares e dos sorrisos!"

--- Vocês percebem benefícios para os familiares dos deficientes? 

"Os familiares dos nossos alunos demonstram muita alegria em perceber seus filhos como capazes de participar de um espetáculo com este formato. Sentem-se felizes, também, por perceber seus filhos felizes! E orgulhosos!"

--- Como acontecem as parcerias artísticas entre os alunos com deficiência e seus parceiros? 

"Os parceiros dos alunos com deficiências são as pessoas da equipe (terapeutas da área da reabilitação, educadoras, administrativo etc), familiares, voluntários ou quaisquer amigos que demonstrem interesse e vontade de participar. As duplas são decididas geralmente por afinidade, além de disponibilidade de tempo, de forma que todos os envolvidos se sintam à vontade e motivados de estarem juntos nos ensaios e no dia da apresentação. Não é necessário ser artista ou dançarino profissional para participar, mas é preciso ter noções básicas de ritmo,dança e outros aspectos da arte do palco."

--- Como são os preparativos para as apresentações?

Trabalhamos com 'projetos pedagógicos' como fio condutor das aulas e utilizamos o tema trabalhado durante o ano (ou o semestre) para montarmos um espetáculo musical anual. Iniciamos o planejamento dos grupos na reunião que acontece todo mês de julho. A partir deste momento iniciamos a seleção das músicas, o desenho do figurino, a organização das parcerias nas danças e tudo o que envolve o espetáculo."

--- Como os temas são escolhidos? Quem faz a direção das apresentações? 

"Os temas são escolhidos pela equipe pedagógica em reunião, de maneira que percebemos que pode ser trabalhado durante as aulas e as vivências lúdicas oferecidas aos alunos. Decidimos, então, de acordo com o perfil dos alunos de cada sala, quais se enquadram em quais personagens. A direção das apresentações é feita por mim (Silvana) e pela Fátima."

--- Algum talento encontrado entre os alunos?

"Nosso maior talento encontrado foi mesmo a Mariana, que a partir da experiência que tem conosco há muitos anos, encontrou na arte seu canal de expressão e prazer. Ela iniciou as apresentações sendo conduzida em sua cadeira. Na sequência dançou numa cadeira de escritório com rodinhas, impulsionando-se com seus próprios pés. Nas últimas apresentações tem, parte do tempo, tido independência para permanecer em pé e dar alguns passos. Esta superação de limites é impulsionada pela vontade em fazer cada vez mais sobre o palco. A primeira vez que fizemos esta apresentação, em 2003, foi no salão da igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro do Jardim São Paulo, junto com uma outra escola, de educação infantil. O palco era uns 0,80 m do chão, sem rampa. Subimos todos os cadeirantes 'no braço', um a um... Foi cansativo, mas o espetáculo, apesar de simples, foi lindo! Alunos e famílias ficaram muito felizes!"

--- Conte um pouco mais sobre a Mariana. 

"Mariana é uma moça que atualmente está com 25 anos. Começou o processo de reabilitação motora conosco quando tinha 15. Participa desde o início do projeto da apresentação do musical. Fez faculdade de propaganda e marketing e adora arte. Estuda história da arte, escreve uma página no facebook sobre a importância da arte para o processo de inclusão da pessoa com deficiência e faz apresentações iniciais em todos os nossos eventos. Atualmente frequenta escola de dança em Alumínio, cidade em que sua família tem um sítio."

--- Quais as maiores dificuldades e oportunidades que vocês têm com esse trabalho? 

"A maior dificuldade, durante alguns anos, foi encontrar espaço de apresentação que tivesse acessibilidade para o palco e que nos fosse cedido para um dia de apresentação. Durante vários anos utilizamos o espaço do Teatro Jardim São Paulo. Nos últimos 4 anos, entretanto, este espaço se fechou para os grupo fora do colégio (inclusive para nós). Ficamos 3 anos sem espaço com infraestrutura, promovendo apresentações mais simples, de acordo com as possibilidades. No ano passado, pela primeira vez, fizemos nossa apresentação no Teatro Alfredo Mesquita. Ela foi composta por 7 núcleos de alunos, os quais, numa sequência cronológica, dançavam embalados pelas memórias de uma simpática senhora. 4 destes núcleos se apresentarão no evento 'Eu, Tu, Ele, Nozes & Vozes'."

--- Por que se interessaram em participar do Evento Multiartístico? 

"Porque desde 2003 temos realizados apresentações musicais envolvendo nossos alunos e equipe, tendo como público exclusivamente familiares e amigos. Destes, temos recebido incentivos a mostrar nosso trabalho para outras pessoas da comunidade, pela qualidade que vem demonstrando. Assim, para que nossos alunos possam sentirem-se felizes e participantes num contexto mais ampliado, e para que a comunidade tenha a chance de conhecer o nosso trabalho e possa se engrandecer com ele, achamos que seria uma boa ideia mostrarmos uma parte dele no evento em questão. Esta é nossa primeira iniciativa em 'sair do nossos próprios muros'."


Conheça a página de Mariana, "A arte de incluir".



Jussara Alves é formada em Psicologia e Teatro. Atua como Articuladora Social no Programa Redes Sociais do Senac Santana. Gosta de clown, grafite, quadrinhos e crochê.


Liberdade, inclusão e diversidade são valores distintos: 
o Cena Norte apoia a expressão, entretanto não se responsabiliza pelas ideias de cada artista veiculadas nos artigos.

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